Artigo desenvolvido com a colaboração de Leonardo Gonçalves
Se você já fez ou ainda vai fazer o ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) então com certeza já ouviu falar da TRI (Teoria de Resposta ao Item), método usado para calcular as notas das questões das provas. Mas o que exatamente é a TRI? E porque ela é utilizada para calcular as notas? Se você também tem essas dúvidas continue lendo e entenda melhor esse conceito!
A TRI, antes conhecida apenas pelos profissionais de estatística, ganhou grande notoriedade no Brasil inteiro, especialmente após sua aplicação no Enem. Nos EUA, onde é mais difundida, algumas empresas adotam a teoria em seus processos seletivos, na tentativa de conhecer melhor algumas características dos candidatos.
O conceito da Teoria de Resposta ao Item
Antes de entender a TRI, é importante falar sobre a Teoria Clássica dos Testes (TCT), que foi a metodologia pioneira na elaboração de instrumentos de mensuração. As duas teorias são provenientes da Psicometria, área que une a Psicologia e a Estatística, e que propõe a criação de instrumentos de medida para o conhecimento e comportamento de um indivíduo.
Hoje, a maioria das escolas e universidades se baseia no princípio básico da TCT: “o todo ” é mais importante. É por isso que, na hora de avaliar o grau de aprendizado dos alunos, o corpo docente pensa na prova completa. Nela, cada questão constrói um conjunto coeso que colabora para a análise do domínio do conhecimento. Quanto mais questões um aluno acertar, maior será o seu domínio sobre o que está sendo estudado.
O foco da Teoria Clássica dos Testes é, então, a quantidade de acertos do aluno. Isso acaba tornando-a eficiente e, ao mesmo tempo, fácil de ser aplicada.
Mas os especialistas e a sociedade em geral começaram a perceber alguns problemas na TCT para estimar habilidades. Ela postula, por exemplo, que um maior número de itens leva a uma maior confiabilidade do instrumento. No entanto, em termos práticos, sabe-se que testes menores são preferíveis para a coleta de dados.
Foi a partir dessa questão que surgiu a Teoria de Resposta ao Item, que deixa de focar no todo e passa a se concentrar nos itens.
Essa metodologia foca na estimação do traço latente, representado pela letra grega teta (θ), que pode ser definido como algo que um indivíduo tem, mas que não pode ser medido da mesma forma que seu peso ou altura. É o caso, por exemplo, de sua habilidade em executar uma tarefa e do seu nível de conhecimento em um determinado assunto ou mesmo algum tipo de comportamento.
Princípio básico da Teoria de Resposta ao Item
O princípio básico da TRI é o de que a probabilidade de acerto de um item depende do nível de domínio do aluno em um determinado assunto. Portanto, é esperado que ele acerte os itens cujo grau de dificuldade é menor ou igual ao seu domínio, e erre aqueles com um grau maior.
A TRI qualifica cada item com base em três parâmetros:
- O grau de dificuldade, que é representado na mesma escala do nível de conhecimento;
- O poder de discriminação, que é a capacidade do item de distinguir os alunos que têm as habilidades e conhecimentos requisitados daqueles que não as possui;
- A possibilidade de acerto ao acaso (popularmente conhecido como ‘chute’).
O princípio básico da Teoria de Resposta ao Item pode ser comparado às provas de corridas com obstáculos. Se um indivíduo é capaz de pular um obstáculo de 90 cm, é esperado que o mesmo consiga pular um de 60 cm, e não consiga ter sucesso com alturas maiores.
No Enem, por exemplo, quando um estudante acerta uma questão considerada ‘difícil’ e erra uma ‘fácil’, a nota dele é impactada negativamente.
Cada item tem, portanto, características diferentes e fornece uma quantidade distinta de informação sobre o conhecimento. Os valores mínimos e máximos de cada prova dependerão dessas características.
As vantagens da TRI em relação à TCT
A aplicação da TRI é mais vantajosa do que a TCT, pois permite a:
- Melhor avaliação das habilidades dos indivíduos;
- Elaboração de diferentes testes para um mesmo exame, com níveis de dificuldade iguais;
- Construção de instrumentos de mensuração menores e igualmente confiáveis;
- Melhor compreensão do instrumento de mensuração.
É por conta de todas essas vantagens que a TRI é aplicada hoje não só no Enem, como também em testes como o TOEFL (Test of English as a Foreign Language) e em programas de avaliação como o SAEB (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica) e o NAEP (The National Assessment of Educational Progress), dos EUA.
Vale ressaltar que a TRI não foi criada para substituir a TCT, mas as duas teorias podem ser usadas conjuntamente na criação de instrumentos de mensuração cada vez mais precisos.
Compreendeu o conceito da Teoria de Resposta ao Item? Se ainda tiver ficado com alguma dúvida sobre essa metodologia, entre em contato com nossos Data Talkers!
4 comentários em “O que é Teoria de Resposta ao Item (TRI)?”
Obrigado. Foi de grande ajuda para mim 🙂
Valeu Dhanilo!
Boa tarde, conteúdo ótimo. De sua propriedade ou teve referências bibliográficas dele?
Obrigada Anderson! Esse artigo foi escrito com a colaboração do Leonardo Gonçalves, hoje ele não trabalha mais com a gente e eu não pude perguntar quais as fontes usadas. Mas, se você quiser recorrer a outros textos para se aprofundar no assunto indicamos esses aqui:
BAKER, Frank B. The basics of item response theory. 2.ed. Wisconsin: Clearinghouse on Assessment and Evaluation, 2001.
EMBRETSON, Susan E.; REISE, Steven P. Item response theory. Psychology Press, 2013.
HAMBLETON, Ronald K.; SWAMINATHAN, Hariharan; ROGERS, H. Jane. Fundamentals of item response theory. Sage, 1991.
DE ANDRADE, Dalton Francisco; TAVARES, Heliton Ribeiro; DA CUNHA VALLE, Raquel. Teoria da Resposta ao Item: conceitos e aplicações. ABE, Sao Paulo, 2000.