capa exemplos de equacoes estruturais via PLS-33

Um exemplo de Equações Estruturais via PLS

No artigo de hoje apresentamos um exemplo prático de modelagem de equações estruturais via PLS (Partial Least Squares).

Artigo desenvolvido com a colaboração de Luana Sílvia dos Santos.

Hoje, apresentaremos um exemplo prático de modelagem de equações estruturais via PLS (Partial Least Squares).

O exemplo utilizará o banco de dados spainfoot do pacote plspm do software R. O banco de dados é composto por 12 variáveis medidas em 20 times da liga espanhola de futebol (La Liga) no período de 2008 a 2009.

Defesa, Ataque e o Sucesso do Time

Nosso interesse aqui é verificar a relação entre defesa e o sucesso do time e ataque e o sucesso do time. Sendo assim, testaremos duas hipóteses:

  • H1: Quanto melhor o Ataque do time, maior tende a ser o Sucesso.
  • H2: Quanto melhor a Defesa do time, maior tende a ser o Sucesso.

Por esse motivo, formaremos as variáveis Ataque, Defesa e Sucesso uma vez que, na condição de variáveis latentes, não são medidas diretamente, mas através de outros indicadores. A seguir listamos os indicadores que formarão cada um desses constructos.

ConstructoQuestãoDescrição
AtaqueAQ1Número de gols marcados em casa
AQ2Número de gols marcados fora
AQ3Percentual de jogos com gols marcados em casa
AQ4Percentual de jogos com gols marcados fora
DefesaDF1Número de golos concedidos em casa
DF2Número de gols concedidos fora
DF3Percentual de jogos sem gols concedidos em casa
DF4Percentual de jogos sem gols concedidos fora
SucessoSC1Número de jogos vencidos em casa
SC2Número de jogos vencidos fora
SC3Maior sequência de vitorias (nº de jogos)
SC4Maior sequência de invencibilidade (nº de jogos)

Ao observar a tabela acima podemos verificar que os itens DF1 e DF2 estão invertidos, ou seja, eles se encontram em um sentido diferente dos demais do constructo, de forma que quanto maior forem esses itens, menor será a defesa.

Sendo assim, é necessário que esses itens sejam invertidos para que quanto maior os seus valores, maior seja defesa. Isso pode ser feito multiplicando os itens por -1, mas deve-se estar atento para inserir a letra “i” na frente dos mesmos quando forem mencionados, para identificar a inversão realizada.

Vamos então carregar a base de dados e criar nossas variáveis e constructos no R.

# Carregando a base de dados e visualizando o cabeçalho com cinco itens amostrais
> data(spainfoot)
> head(spainfoot, n = 5)

           GSH GSA  SSH  SSA GCH GCA  CSH  CSA WMH WMA LWR LRWL  YC RC
Barcelona   61  44 0.95 0.95  14  21 0.47 0.32  14  13  10   22  76  6
RealMadrid  49  34 1.00 0.84  29  23 0.37 0.37  14  11  10   18 115  9
Sevilla     28  26 0.74 0.74  20  19 0.42 0.53  11  10   4    7 100  8
AtleMadrid  47  33 0.95 0.84  23  34 0.37 0.16  13   7   6    9 116  5
Villarreal  33  28 0.84 0.68  25  29 0.26 0.16  12   6   5   11 102  5

# Definindo as variáveis
> AQ1<- spainfoot$GSH
> AQ2<- spainfoot$GSA
> AQ3<- spainfoot$SSH
> AQ4<- spainfoot$SSA
> DF1i<- spainfoot$GCH*-1
> DF2i<- spainfoot$GCA*-1
> DF3<- spainfoot$CSH
> DF4<- spainfoot$CSA
> SC1<- spainfoot$WMH
> SC2<- spainfoot$WMA
> SC3<- spainfoot$LWR
> SC4<- spainfoot$LRWL

# Definindo os constructos
> AQ<- cbind(AQ1, AQ2, AQ3, AQ4)
> DF<- cbind(DF1i, DF2i, DF3, DF4)
> SC<- cbind(SC1, SC2, SC3, SC4)

O modelo de equações estruturais

Tendo as informações de quais indicadores fazem parte de quais constructos, quais perguntas estão invertidas, quais hipóteses devem ser testadas e assumindo que os constructos em questão são todos reflexivos, é possível representar o modelo de equações estruturais da seguinte forma:

Modelo de Equações Estruturais

Método Utilizado: PLS

O modelo de mensuração e modelo de regressão foram ajustados utilizando o método PLS (Partial Least Square). Modelos de Equações Estruturais (SEM) são muito populares em muitas disciplinas, sendo a abordagem PLS (Partial Least Square) uma alternativa a abordagem tradicional baseada na covariância.

A abordagem PLS tem sido referida como uma técnica de modelagem suave com o mínimo de demanda, ao se considerar as escalas de medidas, o tamanho amostral e distribuições residuais (Monecke, et al., 2012).

Vamos então ajustar o modelo de equações estruturais no R, utilizando o método PLS:

> data<- data.frame(AQ, DF, SC)
> Attack = c(0, 0, 0)
> Defense = c(0, 0, 0)
> Success = c(1, 1, 0)
> foot_path = rbind(Attack, Defense, Success)
> colnames(foot_path) = rownames(foot_path)
> foot_blocks = list(1:4, 5:8, 9:12)
> foot_modes = c("A", "A", "A")
> foot_pls = plspm(data, foot_path, foot_blocks, modes = foot_modes)
> summary(foot_pls)

PARTIAL LEAST SQUARES PATH MODELING (PLS-PM)
----------------------------------------------------------
MODEL SPECIFICATION
1   Number of Cases      20
2   Latent Variables     3
3   Manifest Variables   12
4   Scale of Data        Standardized Data
5   Non-Metric PLS       FALSE
6   Weighting Scheme     centroid
7   Tolerance Crit       1e-06
8   Max Num Iters        100
9   Convergence Iters    4
10  Bootstrapping        FALSE
11  Bootstrap samples    NULL
----------------------------------------------------------
BLOCKS DEFINITION
      Block         Type   Size   Mode
1    Attack    Exogenous      4      A
2   Defense    Exogenous      4      A
3   Success   Endogenous      4      A
----------------------------------------------------------
BLOCKS UNIDIMENSIONALITY
         Mode  MVs  C.alpha  DG.rho  eig.1st  eig.2nd
Attack      A    4    0.891   0.925     3.02    0.792
Defense     A    4    0.772   0.855     2.39    1.175
Success     A    4    0.917   0.942     3.22    0.537
----------------------------------------------------------
OUTER MODEL
        weight  loading  communality  redundancy
Attack
1 AQ1    0.337    0.938        0.880       0.000
1 AQ2    0.282    0.862        0.743       0.000
1 AQ3    0.289    0.841        0.707       0.000
1 AQ4    0.240    0.826        0.683       0.000
Defense
2 DF1i   0.109    0.484        0.234       0.000
2 DF2i   0.391    0.876        0.767       0.000
2 DF3    0.327    0.746        0.557       0.000
2 DF4    0.404    0.893        0.797       0.000
Success
3 SC1    0.231    0.776        0.601       0.515
3 SC2    0.303    0.886        0.786       0.672
3 SC3    0.282    0.969        0.938       0.803
3 SC4    0.296    0.944        0.891       0.762
----------------------------------------------------------
CROSSLOADINGS
        Attack  Defense  Success
Attack
1 AQ1    0.938    0.516    0.898
1 AQ2    0.862    0.339    0.752
1 AQ3    0.841    0.414    0.771
1 AQ4    0.826    0.336    0.639
Defense
2 DF1i   0.131    0.484    0.160
2 DF2i   0.462    0.876    0.575
2 DF3    0.319    0.746    0.481
2 DF4    0.421    0.893    0.593
Success
3 SC1    0.709    0.423    0.776
3 SC2    0.773    0.711    0.886
3 SC3    0.844    0.538    0.969
3 SC4    0.860    0.589    0.944
----------------------------------------------------------
INNER MODEL
$Success
             Estimate   Std. Error     t value   Pr(>|t|)
Intercept   -3.05e-17       0.0922   -3.31e-16   1.00e+00
Attack       7.57e-01       0.1044    7.25e+00   1.35e-06
Defense      2.84e-01       0.1044    2.72e+00   1.47e-02
----------------------------------------------------------
CORRELATIONS BETWEEN LVs
         Attack  Defense  Success
Attack     1.00    0.470    0.890
Defense    0.47    1.000    0.639
Success    0.89    0.639    1.000
----------------------------------------------------------
SUMMARY INNER MODEL
               Type     R2  Block_Communality  Mean_Redundancy    AVE
Attack    Exogenous  0.000              0.753            0.000  0.753
Defense   Exogenous  0.000              0.589            0.000  0.589
Success  Endogenous  0.856              0.804            0.688  0.804
----------------------------------------------------------
GOODNESS-OF-FIT
[1]  0.7823
----------------------------------------------------------
TOTAL EFFECTS
relationships  direct  indirect  total
1   Attack -> Defense   0.000         0  0.000
2   Attack -> Success   0.757         0  0.757
3  Defense -> Success   0.284         0  0.284

Modelo de Mensuração

No modelo de mensuração de constructos reflexivos são verificadas a validade convergente, a validade discriminante, a confiabilidade e a dimensionalidade dos construtos. Mais detalhes sobre a validação podem ser vistos no artigo sobre a validação do modelo de mensuração.

A tabela abaixo resume o modelo de mensuração. A partir dela pode-se verificar que todos os itens apresentaram cargas fatoriais e pesos altos, indicando que eles contribuem de forma relevante para a formação da variável latente.

ConstructosItensPesoCarga FatorialComunalidade
AtaqueAQ10,3370,9380,880
AQ20,2820,8620,743
AQ30,2890,8410,707
AQ40,2400,8260,683
DefesaDF1i0,1090,4840,234
DF2i0,3910,8760,767
DF30,3270,7460,557
DF40,4040,8930,797
SucessoSC10,2310,7760,601
SC20,3030,8860,786
SC30,2820,9690,938
SC40,2960,9440,891

Com os resultados da análise da validade convergente, a validade discriminante, dimensionalidade e a confiabilidade dos construtos, pode-se destacar que:

  • todos os constructos apresentaram os índices de confiabilidade Alfa de Cronbach ou Confiabilidade Composta acima de 0,70, evidenciando assim a confiabilidade dos constructos;
  • todos os constructos foram unidimensionais pelo critério de retas paralelas;
  • todos os constructos apresentaram variância extraída superior a 0,50, indicando validação convergente.

De acordo com o critério proposto por Fornell e Larcker (1981) não houve validação discriminante para os constructos, uma vez que suas maiores variâncias compartilhadas foram maiores que suas respectivas variâncias extraídas.

ConstructosAtaqueDefesaSucesso
Alfa de Cronbach0,8910,7720,917
Confiabilidade Composta0,9250,8550,942
Dimensionalidade111
Variância Extraída0,7530,5890,804
Máximo da Variância Compartilhada0,7920,4080,792

Observamos que, a partir do critério proposto por Fornell e Larcker, não foi possível ter a validação discriminante dos constructos. Nesse caso, podemos utilizar o método das cargas fatoriais cruzadas (Barclay et al.,1995). Nele, o critério de validação discriminante é alcançado quando as cargas fatoriais dos itens forem maiores que todas suas maiores cargas fatoriais cruzadas.

ConstructosItensCarga FatorialMáximo da Carga Fatorial Cruzada
AtaqueAQ10,9380,898
AQ20,8620,752
AQ30,8410,771
AQ40,8260,639
DefesaDF1i0,4840,160
DF2i0,8760,575
DF30,7460,481
DF40,8930,593
SucessoSC10,7760,709
SC20,8860,773
SC30,9690,844
SC40,9440,860

Como todas as cargas fatoriais dos itens foram maiores que todas suas maiores cargas fatoriais cruzadas, se pode verificar a validação discriminante dos constructos.

Agora que verificamos a validade convergente, a validade discriminante, dimensionalidade e a confiabilidade dos construtos, passamos a avaliar o modelo estrutural.

Modelo Estrutural

A tabela abaixo apresenta o resultado do modelo estrutural, onde pode-se verificar que houve influência significativa e positiva do ataque sobre o sucesso, sendo que quanto maior o ataque, maior tende a ser o sucesso. Também houve influência significativa da defesa sobre o sucesso, sendo que quanto maior a defesa, maior tende a ser o sucesso.

EndógenaExógenasβE.P. (β)¹Valor-p
SucessoAtaque0,7570,1040,000
Defesa0,2840,1040,015
¹ Erro Padrão; R² = 85,6%; GoF = 78,2%.

Para verificar a qualidade dos ajustes foram utilizados o R2 e o GoF (Tenenhaus, et al., 2004). O R2 representa em uma escala de 0% a 100% o quanto os constructos independentes explicam os dependentes.

Já o GoF é uma média geométrica das AVEs dos construtos e dos R² do modelo e também varia de 0% a 100%. O GoF em PLS não tem a capacidade de discriminar modelos válidos de inválidos, além de não se aplicar para modelos com constructos formativos (Henseler and Sarstedt, 2012). Nesses casos ele apenas permite uma síntese das AVEs e dos R² do modelo em uma única estatística, podendo ser útil para futuras comparações de aderência de diferentes amostras ao modelo.

Observamos que o ataque e a defesa conseguiram explicar 85,6% da variabilidade do sucesso. Além disso, o modelo apresentou um GoF de 78,2%.

Esse foi apenas um exemplo de aplicação da técnica de modelagem de equações estruturais. Como já dissemos, é uma técnica muito utilizada e as interpretações e análises que podem surgir de um modelo estrutural contribuem muito para o entendimento dos fenômenos estudados.

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