Um exemplo prático de PLN (processamento de linguagem natural)

O processamento de linguagem natural (PLN) é uma área dentro da Inteligência Artificial que busca fazer com que os computadores entendam e simulem uma linguagem humana. Mas como será que o PLN funciona na prática?

Artigo escrito com a colaboração de Valéria Nicéria da Silva.

O processamento de linguagem natural (PLN) é uma área dentro da Inteligência Artificial que busca fazer com que os computadores entendam e simulem uma linguagem humana. É usado no Google Translate, em sistemas de reconhecimentos e sintetização de falas, respostas automáticas e análises de sentimento. Mas como será que o PLN funciona na prática?

No artigo de hoje vamos falar um pouco mais sobre esse processamento e explicar como fazer uma análise de sentimentos usando o R para estudar uma pequena amostra de tweets.

Mineração de texto

Todo o processamento de linguagem natural só é possível por causa da mineração e extração de significado dos conteúdos postados na internet, o chamado big data. Quando falamos de conteúdo queremos dizer de artigos – em blogs como este –, notícias, comentários nas redes sociais e tudo o que é colocado na internet em forma de texto.

Esses conteúdos são considerados dados não estruturados. A mineração de texto é importante para transformá-los em dados estruturados: organizados em tabelas e devidamente identificados para que possam ser analisados. Só assim é possível extrair informações relevantes deles. Esses dados podem ser usados, por exemplo, para realizar diferentes análises de mercado, produzir matérias jornalísticas ou pesquisas científicas. 

Resumindo, a mineração de texto tem como objetivo encontrar termos relevantes e estabelecer relacionamento entre eles de acordo com a sua frequência para extrair informações de grandes volumes de textos. 

Workflow

Para realizar essa tarefa precisamos estabelecer um fluxo que deve ser seguido para orientar o nosso trabalho e evitar a coleta de dados que não são úteis ou análises que não são compatíveis com os dados disponíveis. O processo de obtenção dessas informações segue a seguinte lógica:

pln workflow

Começar com uma pergunta: primeiro devemos ter um problema que queremos resolver, ou uma pergunta que desejamos responder, como “o que as pessoas estão falando sobre data science?”

Obter os dados: com essa pergunta em mente, precisamos usar os dados para respondê-la. Para isso, utilizaremos como fonte de dados o que as pessoas estão postando no Twitter.

Limpar: depois de coletar os dados, passamos para a limpeza deles, removendo caracteres especiais – como acentos e pontuações – e transformando todas as letras em minúsculo. Depois disso retiramos também todas as stopwords, que são palavras irrelevantes para a pergunta que queremos responder.

Analisar: com tudo isso pronto, iremos realizar uma das partes mais divertidas que é analisar os dados. Aqui podemos aplicar diversas técnicas e verificar se conseguimos responder a pergunta que nos motivou a analisar esses dados.

Visualizar: nessa etapa, queremos ver o resultado da nossa análise e assim gerar diversas opções de gráficos como nuvem de palavras, gráfico de barras, dendogramas, entre outros.

Extrair conhecimento: a última parte do processo, e o objetivo do trabalho, é gerar conhecimento a partir das análises realizadas, agregando ainda mais ao nosso entendimento prévio sobre o assunto.

Código de exemplo

Para entender mais sobre o assunto criaremos um projeto básico de text mining. Para isso, utilizaremos a linguagem de programação R e os seguintes pacotes:

  • ‘rtweet’ permite que você, caso tenha uma conta, se conecte ao Twitter e realize buscas de até 18 mil tweets.
  • ‘tm’ o pacote tm, de “Text Mining”, é utilizado para trabalhar com textos.
  • ‘wordcloud2’ permite visualizar as palavras mais usadas em tamanhos diferentes de acordo com a frequência em que cada uma delas aparece.
  • ‘tydeverse’ possui uma coleção de pacotes inclusos que ajudam na manipulação dos dados.

Primeiro, vamos instalar os pacotes que serão necessários durante o projeto:

 # Instalando os pacotes 
install.packages("rtweet")
 install.packages("tm")
 install.packages("wordcloud")
 install.packages("tidyverse") 

E, com os pacotes instalados, devemos carregá-los para utilizar suas funções.

  # Carregando os pacotes
 library(tm)
 library(rtweet)
 library(wordcloud)
 library(tidyverse) 

Precisaremos de dados e vamos coletar esses dados utilizando a API do Twitter e a função de busca ‘search_tweets()’. Informamos a # que iremos buscar, o número de tweets (que não pode ultrapassar 18 mil), diremos também que não queremos os retweets e que o idioma dos tweets deverá ser o inglês.

  # Buscando os tweets com a #datascience
 datascience_tweet <- search_tweets(
   "#datascience",
   n = 18000,
   include_rts = FALSE,
   lang = "en"
 ) 

Visualizando a frequência de tweets que utilizam a #datascience no intervalo de 1 hora:

  # Gerando um gráfico com a frequencia dos tweets no intervalo de 1 hora
 datascience_tweet %>% 
   ts_plot("1 hours") +
   ggplot2::theme_minimal() +
   ggplot2::theme(plot.title = ggplot2::element_text(face = "bold")) +
   ggplot2::labs(
     x = NULL, y = NULL,
     title = "Frequência de #datascience no Twitter",
     subtitle = "Tweets no intervalo de 1 hora",
     caption = "\nSource: Dados coletados do Twitter's REST API via rtweet"
   ) 
pln frequência termos data science

Para começar a mineração de texto vamos atribuir uma variável para a coluna text.

  # Atribuindo os textos a uma variável
 datascience_texto <- datascience_tweet$text 

Em seguida limpamos o corpus que é o total de textos colhidos. Para isso utilizamos a função tm_map, onde removeremos os caracteres especiais, transformaremos todas as letras para minúsculas, removeremos as pontuações e as stopwords em inglês.

  # Transformando os textos em um corpus
 datascience_corpus <- VCorpus(VectorSource(datascience_texto))

 # Realizando a limpeza do corpus
 datascience_corpus <- 
   tm_map(
     datascience_corpus,
     content_transformer(
       function(x) iconv(x, from = 'UTF-8', to = 'ASCII//TRANSLIT')
     )
   ) %>% 
   tm_map(content_transformer(tolower)) %>% 
   tm_map(removePunctuation) %>% 
   tm_map(removeWords, stopwords("english")) 

Após realizar a limpeza dos textos, podemos visualizar o resultado da pesquisa em uma nuvem de palavras. Usamos a função brewer.pal para gerar as cores em hexadecimal e assim colorirmos a nuvem.

  # Lista de cores em hexadecimal
 paleta <- brewer.pal(8, "Dark2")

 # Criando uma nuvem de palavras, com no máximo 100 palavras
 # onde tenha se repetido ao menos 2 vezes.
 wordcloud(
   datascience_corpus,
   min.freq = 2,
   max.words = 100,
   colors = paleta
 ) 
pln nuvem de palavras data science

Em seguida criamos uma matriz de documentos-termos (DocumentTermMatrix). Removemos os termos menos frequentes da matriz e somamos os termos restantes para assim verificar quais aparecem mais vezes.

  # Criando uma matriz de termos
 datascience_document <- DocumentTermMatrix(datascience_corpus)

 # Removendo os termos menos frequentes
 datascience_doc <- removeSparseTerms(datascience_document, 0.98)

 # Gerando uma matrix ordenada, com o termos mais frequentes
 datascience_freq <- 
   datascience_doc %>% 
   as.matrix() %>% 
   colSums() %>% 
   sort(decreasing = T) 

Geramos um dataframe com os termos mais frequentes e visualizamos em um gráfico.

  # Criando um dataframe com as palavras mais frequentes
 df_datascience <- data.frame(
   word = names(datascience_freq),
   freq = datascience_freq
 )

 # Gerando um gráfico da frequência
 df_datascience %>%
   filter(!word %in% c("datascience", "via")) %>% 
   subset(freq > 450) %>% 
   ggplot(aes(x = reorder(word, freq),
              y = freq)) +
   geom_bar(stat = "identity", fill='#0c6cad', color="#075284") +
   theme(axis.text.x = element_text(angle = 45, hjus = 1)) +
   ggtitle("Termos relacionados a Data Science mais frequentes no Twitter") +
   labs(y = "Frequência", x = "Termos") +
   coord_flip() 
pln frequência termos data science

Podemos também visualizar o resultado em uma nuvem de palavras utilizando o pacote wordcloud2 para gerar a nuvem.

 # Carregando o pacote 'devtools'
 library(devtools)

 # Instalando o pacote 'wordcloud2'
 devtools::install_github("lchiffon/wordcloud2") 

Passamos o dataframe com os termos mais frequentes para a função wordcloud2 e teremos como resultado o seguinte gráfico.

  # Carregando o pacote 'wordcloud2'
 library(wordcloud2)

 wordcloud2(data = df_datascience) 
pln nuvem de palavras data science

Podemos visualizar como os nossos termos estão agrupados. Para isso produziremos um dendrograma de agrupamento hierárquico, ou diagrama de árvore.

 # Removendo os termos menos frequentes
 datascience_doc1 <- removeSparseTerms(datascience_document, 0.95)

 # Clustering 1 = Dendograma
 distancia <- dist(t(datascience_doc1), method = "euclidian")
 dendograma <- hclust(d = distancia, method = "complete")
 plot(dendograma, habg = -1, main = "Dendograma Tweets Data Science",
      xlab = "Distância",
      ylab = "Altura") 
pln dendograma data science

Esse é um exemplo de como podemos utilizar a mineração de texto para extrair informações relevantes de uma grande quantidade de conteúdo disponível na internet. Essa é a primeira parte de como fazer um processamento de linguagem natural.

Agora vamos pegar outro exemplo de como isso pode ser feito e quais os resultados que podem ser extraídos de uma análise se sentimos.

Para esse exemplo tentaremos responder a seguinte pergunta “qual é o sentimento das pessoas em relação à economia?”. Depois de definir a pergunta, precisamos de uma fonte de dados e para isso utilizaremos os comentários do Twitter. O projeto de exemplificação será construído utilizando a linguagem R e será necessário ter os seguintes pacotes instalados em seu computador:

  • ‘tydeverse’ É um pacote, que possui uma coleção de pacotes inclusos, para ajudar na manipulação dos dados;
  • ‘rtweet’ É um pacote, que permitirá que você se conecte ao Twitter, caso você tenha uma conta, onde você poderá realizar buscas, com no máximo 18 mil tweets;
  • ‘tm’ O pacote tm de “Text Mining” é um pacote utilizado para trabalharmos com textos;
  • ‘wordcloud’ É um pacote que nos permite visualizar de forma rápida, as palavras, utilizando como critério de tamanho, a frequência;
  • ‘syuzhet’ É um pacote, que utilizaremos para classificar os sentimentos.
# Instalando os pacotes
install.packages("tydeverse")
install.packages("rtweet")
install.packages("tm")
install.packages("wordcloud")
install.packages("syuzhet")

Vamos carregar os pacotes.

# Carregando os pacotes
library(tydeverse)
library(rtweet)
library(tm)
library(wordcloud)
library(syuzhet)

Agora vamos buscar os textos utilizando a função search_tweets do pacote rtweet. Utilizaremos como amostra 2 mil tweets e esses tweets estarão em inglês.

# Buscando tweets relacionados a economia
economia_tweets <- search_tweets(
  "#economy",
  n = 2000,
  include_rts = FALSE,
  lang = "en"
)

Para fazer o pré-processamento do texto e para simplificar nosso trabalho, vamos separar a coluna ‘text’ em uma variável.

# Separando o texto
economia_text <- economia_tweets$text

Para fazer a limpeza dos textos podemos utilizar as funções do pacote tm, ou podemos criar as nossas próprias funções, como no exemplo abaixo:

# Função para limpeza dos textos
limpar_texto <- function(texto) {
  # Convertendo o texto para minúsculo
  texto <- tolower(texto)
  # Removendo o usuário adicionado no comentário
  texto <- gsub("@\\w+", "", texto)
  # Removendo as pontuações
  texto <- gsub("[[:punct:]]", "", texto)
  # Removendo links
  texto <- gsub("http\\w+", "", texto)
  # Removendo tabs 
  texto <- gsub("[ |\t]{2,}", "", texto)
  # Removendo espaços no início do texto
  texto <- gsub("^ ", "", texto)
  # Removendo espaços no final do texto
  texto <- gsub(" $", "", texto)
  return(texto)
}

Utilizando a função criada para limpar o texto temos:

# Limpando os textos
economia_text <- limpar_texto(economia_text)

Transformamos o texto limpo em um corpus e depois usamos o pacote tm para remover as stopwords.

# Convertendo os textos em corpus
economia_corpus <- VCorpus(VectorSource(economia_text))

# Removendo stopwords
economia_corpus % tm_map(removeWords, stopwords("english"))

Após a limpeza, podemos visualizar os textos em uma nuvem de palavras, para descobrir os termos mais frequentes no conjunto de dados.

# Lista de cores em hexadecimal
paleta <- brewer.pal(8, "Dark2")

wordcloud(
  economia_corpus,
  min.freq = 15,
  max.words = 250,
  random.order = F,
  colors = paleta
)
pln nuvem de palavras economia

Agora transformaremos o nosso corpus em uma matriz de documentos-termos para criarmos um gráfico de barras com os termos e sua frequência.

# Lista de cores em hexadecimal
# Transformando o corpus em matriz de documentos-termos
economia_doc <-  DocumentTermMatrix(economia_corpus)

# Removendo os termos menos frequentes
economia_doc1 <- removeSparseTerms(economia_doc, 0.97)

# Gerando uma matrix ordenada, com o termos mais frequentes
economia_freq <- 
  economia_doc1 %>% 
  as.matrix() %>% 
  colSums() %>% 
  sort(decreasing = T)

# Criando um dataframe com as palavras mais frequentes
df_economia_freq <- data.frame(
  word = names(economia_freq),
  freq = economia_freq
)

# Gerando um gráfico da frequência
df_economia_freq %>%
  filter(!word %in% c("economy")) %>% 
  subset(freq > 50) %>%
  ggplot(aes(x = reorder(word, freq),
             y = freq)) +
  geom_bar(stat = "identity", fill='#0c6cad', color="#075284") +
  theme(axis.text.x = element_text(angle = 45, hjus = 1)) +
  ggtitle("Termos relacionados a Economia mais frequentes no Twitter") +
  labs(y = "Frequência", x = "Termos") +
  coord_flip()
pln termos relacionados à economia

Criando um dendrograma (diagrama de árvore) onde será possível visualizar o agrupamento dos nossos termos.

# Dendrograma -> Visualizando os grupos
distancia <- dist(t(economia_doc1), method = "euclidian")
dendrograma <- hclust(d = distancia, method = "complete")
plot(dendrograma, habg = -1, main = "Dendrograma Tweets Economia",
     xlab = "Distância",
     ylab = "Altura")
pln dendograma economia

E por último realizaremos a análise de sentimentos dos tweets. Para isso utilizaremos a função get_nrc_sentiment do pacote syuzhet e passaremos como parâmetro os termos da matriz de documentos-termos. Após obtermos as emoções dos termos, faremos o cálculo da frequência dos sentimentos que utilizaram a #economy.

# Obtendo os emoções
economia_sentimento <- get_nrc_sentiment(
  economia_doc$dimnames$Terms,
  language = "english"
)

# Calculando a frequência dos sentimentos
economia_sentimento_freq %
  colSums() %>% 
  sort(decreasing = T)

Com a frequência calculada, vamos traduzir os sentimentos do inglês para o português e transformar o resultado em um dataframe para depois gerar o gráfico e visualizar os resultados.

# Criando um dataframe com os sentimentos traduzidos, que será utilizado como de-para. 
sentimetos_traducao <- 
    data.frame(
      sentiment = c(
        "positive",
        "negative",
        "trust",
        "anticipation",
        "fear",
        "joy",
        "sadness",
        "surprise",
        "anger",
        "disgust"
      ),
      sentimentos = c(
        "Positivo",
        "Negativo",
        "Confiança",
        "Antecipação",
        "Medo",
        "Alegria",
        "Tristeza",
        "Surpresa",
        "Raiva",
        "Nojo"
      )
    )

# Tranformando os resultados da frequência em um dataframe 
# e juntando ao dataframe de tradução
df_sentimento <- 
  data.frame(
    sentiment = names(economia_sentimento_freq),
    freq = economia_sentimento_freq
  ) %>% 
  left_join(sentimetos_traducao, by = "sentiment") %>% 
  dplyr::select(-sentiment) %>% 
  arrange(desc(freq))

# Visualizando a frequência dos sentimentos em relação a #economy
ggplot(data = df_sentimento,
           aes(x = reorder(sentimentos, -freq), y = freq)) +
    geom_bar(aes(fill=sentimentos), stat = "identity") +
    theme(legend.position = "none",
          axis.text.x = element_text(angle = 45, hjus = 1)) +
    xlab("Sentimentos") +
    ylab("Frequência") +
    ggtitle(titulo)
pln sentimento em relação à economia
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1 comentário em “Um exemplo prático de PLN (processamento de linguagem natural)”

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